quinta-feira, 26 de maio de 2011

ENTREVISTA COM O PROFESSOR SÉRGIO LIMA

No ano passado fizemos uma enquete com os alunos e ex-alunos do curso de Publicidade e Propaganda para saber quais seriam os professores que eles mais gostariam que nós entrevistássemos. Entre os mais votados estava o professor Sérgio Lima, que se prontificou a conversar com a equipe da Agência Experimental AX e compartilhar um pouco mais de sua experiência profissional e de vida.

                                 

Conheça-o um pouco mais:
Nascido na cidade de Pirassununga, SP, é poeta, ensaísta e artista plástico. Militante da subversão e da afirmação do surrealismo, participou do Grupo Surrealista de Paris a convite de André Breton, permanecendo na capital francesa nos anos de 1961 a 1962.
Fundador do Grupo Surrealista de São Paulo em sua primeira aparição (1965-1969), e da segunda (1991-1999), a partir de 2005 passa a reunir-se mensalmente com integrantes do extinto grupo de Collage e com ativistas independentes do surrealismo, vindo então a formar o que hoje consolida-se como o Grupo Surrealista de São Paulo em sua terceira aparição.
Foi editor da Revista surrealista Phala, em 1967 e o é da Quimera que Passa, publicação do atual Grupo Surrealista de São Paulo.  É autor dos livros: O Olhar Selvagem: O Cinema dos Surrealistas. 1. ed. São Paulo: Algol Editora, 2008,  La Cartomante, Livro de Poemas . Madrid/Espanha: La bella cristalera editorial, 2005,  Es Só Quifrenia/ Manchas e escritura automática plaqueta da exposição de Wallinho Simonsen. São Paulo: Centro de Artes Irineu Ângulo, 2000, O Jogo de ajuntar Coisas e a Arte da Espontaneidade - Editada pelo laboratório de pesquisa sobre imaginário do Instituto de psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). São Paulo: Revista Imaginário, 2000,  A boca da sombra que te ergue branca - poema de 1991/1992 publicado em número especial da revista Unión Libre. Coordenado por Claudio Rodríguez Fer e Carmen Blanco/Ediciones Castro Lugo. Galicia - Espanha: Revista Unión Libre - Coordenado por Claudio Rodríguez Fer e Carmen Blanco/Ediciones Castro Lugo, 1999,  A Aventura Surrealista, tomo 1. Campinas - São Paulo: UNICAMP/ UNESP/ VOZES, 1995, Aluvião Rei ( O Canto em ladainha macia) com apresentações de Floriano Martins e Mário Cesariny . Lisboa: Edições Culturais do Subterrâneo, 1992, Amor Sublime Tradução do Le Noyau de la Comète-Anthologie de L'Amour Sublime de Benjamin Péret, em Parceria com Pierre Clemens. São Paulo: Editora Brasiliense S.A, 1985, A Alta Licenciosidade Poesia e Erótica 1955/1984. São Paulo: Edição do Autor e Cooperativa, 1985, Collage em nova superfície: Textos sobre a re-utilização dos resíduos (impressos) do registro fotográfico. Massao Ohno:Parma: Raul di Pace, 1984, A Festa (Deitada). São Paulo: Editora Quíron, 1976, O Corpo Significa . São Paulo: Livraria Editora Ltda - EDART, 1976, Je Ne Mange Pas De Ce Pain-Là - Monografia de Benjamin Péret no Brasil, com iconografia e documentos inéditos. 1. ed. São Paulo: A Phala, 1967, Amore. São Paulo: Massao Ohno Editora, 1963.

ENTREVISTA:
AX) Professor Sérgio Lima, pode nos fazer um breve resumo da sua carreira?
SL) Bem, a primeira vez que dei aulas foi em 1959, no curso para Dirigentes de Cineclubes, organizado pela Cinemateca brasileira, onde eu já trabalhava desde 1957. Depois fui assistente do Paulo Emílio Sales Gomes, no 1º curso de cinema na faculdade de filosofia e letras da USP; mais tarde fui auxiliar de pós graduação do profº Antônio Cândido: a personagem no romance e no cinema.
No período entre 1967 é 1968, organizei o departamento de cinema, rádio e TV da DPZ, agência recém inaugurada. Naqueles anos e nos próximos proferi palestras sobre cinema e publicidade. Depois voltei a lecionar na faculdade Santa Marcelina no ano de 1986, as matérias historia da arte e processo de criação. Em 89, recebi do MEC o titulo de “Notório Saber”; 10 anos depois, o título de doutor em letras, com a tese “O modernismo no Brasil”. E em 99, comecei a lecionar na Universidade de Guarulhos e no UNIFIEO.

AX) Em quantos e quais cursos você é formado?
SL) Minha graduação se deu em cursos no exterior que não são reconhecidos no Brasil. São cursos de pesquisa iconográfica e história do cinema na Cinemateca Francesa e na Biblioteca Nacional de Paris, existentes na época em que as escolas de cinema foram inauguradas no Brasil, no final dos anos 60, quando eu já era profissional.

AX) Conte-nos sobre este período que leciona no UNIFIEO.
SL) Inicialmente, lecionei aqui História da Arte e Processo de Criação para Publicidade e Propaganda e Design. Depois fiquei responsável apenas pela parte de Publicidade com as matérias Teoria da Criação, Desenho Publicitário e participação na orientação dos TCC’s.

AX) De onde vem inspiração para suas aulas dinâmicas?
SL) Essa inspiração vem dos métodos da escola de criação da universidade de Búfalo, nos EUA, a qual freqüentei; e dos workshops da DPZ .

AX) Para você, o que faz dar aula valer a pena?
SL) Para mim, o importante são as respostas que os alunos, de repente, dão às provocações que eu estabeleço. Afinal, são respostas sempre reveladoras.

AX) Já participou de algum movimento artístico?
SL) Eu participo do movimento surrealista, desde 1956.

AX) E na vida das pessoas? Como você acha que elas encaram o surrealismo que lhes é introduzido?
SL) As pessoas têm pouca informação a respeito e o que há em volta de nós, no momento, não é favorável a esse tipo de revelação.

AX) E do surrealismo para as artes no Brasil?
SL) A importância decorre por ser o surrealismo um dos fundamentos do pensamento moderno.

AX) Quais são as origens das artes que influenciam a cultura brasileira?
SL) Arte “brasileira” para mim não existe. Existe arte. Não é existente enquanto classificação nacionalista, mas sim, como expressões da cultura do ser humano, sem se restringir ao país onde ele vive.

AX) Se você não fosse uma pessoa ligada às artes, em que outra área acharia interessante atuar?
SL) Seria ligado à magia.

AX) Qual a sua opinião a respeito da criatividade empregada nas campanhas publicitárias veiculadas atualmente?
SL) A criatividade está em baixa há mais de uma década, porque o consumismo e o uso expresso de varejo são dominantes. Inclusive porque nos dias de hoje, eles não precisam realmente que a propaganda seja criativa. Elas são qualitativas.

AX) Mencione um anúncio inesquecível pela criatividade.
SL) Foi o lançamento da revista “Penthouse” nos EUA. É uma campanha de página inteira de jornal, veiculada em jornais importantes como New York Times e Washington Post. Era assim: um coelho de verdade, como alvo de uma mira de rifle de alcance, com a legenda: “Está aberta a sessão de caça” Eis aí!

AX) E um anúncio que considera o pior que já viu?
SL) Todos os de cerveja brasileira.

AX) Qual país você considera que tem a publicidade mais criativa do mundo?
SL) Publicidade não se divide por países. Tanto que há agências que operam em mais de um.

AX) Existe algum profissional de criação que você admira? Poderia citar o nome?
SL) Vários. O pessoal que fundou a PUSH PIN STUDIO; afinal, eles mudaram a publicidade nos anos 60; tenho certa afinidade com eles, porque começamos na mesma época.

AX) Fale sua opinião a respeito de pontes que aproximam e distanciam a arte da publicidade.
SL) Penso que são mundos e mídias totalmente distintos; a publicidade é um meio de venda e é a arte de expressão.

AX) Você foi selecionado para essa entrevista por indicação de seus alunos. A que credita essa escolha?
SL) Talvez pelo jeito com o qual eu conduzo as matérias que leciono a vocês. Porque procuro produzir aulas como vivências e experiências individuais ou em grupos, nunca como fórmulas teóricas.

AX) Qual a sua opinião a respeito dos alunos de publicidade do UNIFIEO?
SL) Eu gosto muito de vocês, porque com vocês aprendo muito. E, de vez em quando, também, tenho surpresas que são, em geral, boas.

AX) Quais são seus hobbies? O que faz quando não está lecionando?
SL) Não tenho hobbies. Trabalho e produzo muito. Quando não estou lecionando estou lendo, escrevendo, filmando, conhecendo algumas coisas. Venho para as aulas escutando rádio, pois considero de repertório importante em meu dia, por ser mídia quente, ao contrário de TV e internet, que são mídias frias, que não estão em contato com você.

AX) Sérgio Lima X Sérgio Lima. Como você se define?
SL) Como um investigador de coisas bonitas.

Entrevistado por: Daniela Figueira / Postado por: Edson Paiva

2 comentários:

  1. Grande mestre, grande professor e ilustre humano. Sou muito orgulhoso por trabalhar com o professor Sérgio Lima e só posso incentivar também meus alunos a valorizarem o olhar desse artista e poeta.

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  2. Fiz Faculdade de Publicidade e Propaganda na Unifieo e tive o prazer de ter aulas com esse ser humano maravilhoso. Não sei por onde anda, mas quem tiver o prazer de cruzar o caminho dele não sai ileso. Foi um grande mestre para mim. Abraços
    Paula Negrão

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